O câncer de cabeça e pescoço compreende um grupo de tumores que podem surgir em diferentes regiões, como boca, laringe, faringe, cavidade nasal, glândulas salivares e tireoide. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), essa é uma das categorias de câncer mais comuns entre homens no Brasil, sendo muitas vezes associado ao tabagismo, alcoolismo e infecções pelo HPV.
Os tratamentos para esses tipos de câncer são desafiadores, pois envolvem áreas sensíveis do corpo humano, responsáveis por funções vitais como fala, respiração e alimentação. Assim, é essencial entender quais são as abordagens terapêuticas disponíveis, seus objetivos e como elas impactam a qualidade de vida do paciente.
Quando o tratamento é indicado
A escolha do tratamento depende de múltiplos fatores:
Localização e estágio do tumor
Tipo histológico do câncer
Condição geral do paciente
Impacto funcional (fala, deglutição, respiração)
Existência de metástases
Tumores em estágio inicial muitas vezes permitem tratamentos menos invasivos, enquanto casos avançados podem exigir combinações entre cirurgia, radioterapia e quimioterapia.
Principais tratamentos para câncer de cabeça e pescoço
O tratamento multidisciplinar é essencial. Frequentemente, uma equipe formada por cirurgião oncologista, radioterapeuta, oncologista clínico, fonoaudiólogo, nutricionista e psicólogo acompanha o paciente ao longo de toda a jornada terapêutica.
Cirurgia oncológica
A cirurgia é indicada para remoção do tumor primário e, muitas vezes, dos linfonodos do pescoço (esvaziamento cervical), especialmente quando há suspeita de disseminação.
Principais objetivos:
Retirada completa do tumor com margens livres
Preservação funcional sempre que possível
Reconstrução da região afetada, quando necessário
Técnicas modernas:
Cirurgias com auxílio de laser ou endoscopia
Microcirurgias reconstrutivas (retalhos livres)
Possíveis impactos:
Alterações na fala, mastigação e deglutição
Comprometimento estético e funcional
Necessidade de reabilitação com fonoaudiólogo e fisioterapia
Radioterapia
A radioterapia é uma das modalidades mais utilizadas no tratamento do câncer de cabeça e pescoço, podendo ser empregada como tratamento principal ou adjuvante à cirurgia.
Tipos principais:
Radioterapia convencional
Radioterapia de intensidade modulada (IMRT) – permite maior precisão, protegendo tecidos saudáveis
Vantagens:
Tratamento preservador em casos selecionados
Pode ser alternativa à cirurgia em tumores iniciais
Efeitos colaterais frequentes:
Mucosite oral
Xerostomia (boca seca)
Alterações no paladar
Lesões na pele da área irradiada
O suporte com odontologia oncológica e nutrição é indispensável para reduzir os impactos da radioterapia.
Quimioterapia
A quimioterapia é geralmente usada como terapia complementar, principalmente em casos localmente avançados ou metastáticos.
Indicações comuns:
Associada à radioterapia (quimiorradioterapia)
Neoadjuvante (antes da cirurgia)
Paliativa (em casos incuráveis, para controlar sintomas)
Principais medicamentos utilizados:
Cisplatina
Fluorouracil (5-FU)
Taxanos (docetaxel, paclitaxel)
Efeitos adversos:
Náuseas e vômitos
Queda de cabelo
Baixa de imunidade
Fadiga intensa
O uso deve ser cuidadosamente monitorado por oncologista clínico.
Terapias-alvo e imunoterapia
Avanços na oncologia têm possibilitado o uso de terapias personalizadas para câncer de cabeça e pescoço, especialmente em casos avançados.
Terapias-alvo:
Atuam em proteínas específicas do tumor (ex.: inibidores de EGFR como o cetuximabe)
Utilizadas em tumores que não respondem bem aos tratamentos convencionais
Imunoterapia:
Estimula o sistema imunológico a atacar as células cancerígenas
Utiliza agentes como pembrolizumabe ou nivolumabe
Indicada para casos metastáticos ou resistentes à quimio
Essas terapias ainda estão em fase de expansão no Brasil, mas já apresentam bons resultados em centros oncológicos de referência.
Efeitos colaterais e reabilitação
O câncer de cabeça e pescoço, por atingir estruturas fundamentais, exige um plano de reabilitação precoce e contínuo. A qualidade de vida dos pacientes pode ser profundamente impactada, principalmente pela:
Dificuldade de se alimentar
Perda da fala ou alterações vocais
Dores crônicas
Depressão e ansiedade
Intervenções importantes:
Fonoaudiologia: reabilita fala, mastigação e deglutição
Nutrição especializada: adapta dieta conforme limitações
Psicologia oncológica: ajuda no enfrentamento emocional
Odontologia oncológica: previne complicações bucais
Fisioterapia: melhora mobilidade cervical e ombros após cirurgia
Importância do diagnóstico precoce
O sucesso do tratamento está diretamente ligado ao diagnóstico precoce. Muitas vezes, o câncer de cabeça e pescoço é confundido com problemas comuns, como dor de garganta persistente, rouquidão ou feridas na boca que não cicatrizam.
Homens acima de 40 anos, fumantes e consumidores frequentes de álcool devem ter atenção redobrada, especialmente se apresentarem:
Lesões brancas ou vermelhas na boca
Dificuldade para engolir
Rouquidão por mais de 2 semanas
Ínguas no pescoço sem causa aparente
Campanhas como o Julho Verde, promovidas pela Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço, reforçam a importância da prevenção e da consulta com especialistas.
Considerações finais
O câncer de cabeça e pescoço exige abordagem individualizada e multidisciplinar. Com o avanço das técnicas cirúrgicas, da radioterapia de precisão e da imunoterapia, as taxas de controle da doença têm melhorado significativamente.
Ainda assim, a prevenção continua sendo a melhor estratégia: evitar cigarro, álcool, manter boa higiene bucal e se vacinar contra o HPV são atitudes fundamentais. E, claro, buscar avaliação médica ao menor sinal de alteração persistente.
Fontes:
INCA;
SBCCP;
Hospital A.C.Camargo.