O setor da saúde brasileiro está passando por uma transformação significativa. De acordo com o relatório “Global Health and Life Sciences Outlook” da Deloitte, o mercado da saúde no Brasil deve registrar um crescimento anual de 9% até 2028. Essa projeção reflete não apenas o aumento da demanda por serviços médicos e produtos farmacêuticos, mas também a necessidade de reestruturação do sistema para atender aos novos desafios da sociedade contemporânea.
Com o envelhecimento da população, o avanço das tecnologias médicas e a busca por maior eficiência no cuidado com o paciente, o setor se consolida como um dos mais estratégicos da economia brasileira. Neste artigo, vamos explorar os fatores que impulsionam esse crescimento, os desafios que ainda precisam ser enfrentados e o papel crucial da inovação, regulação e acesso equitativo à saúde.
Panorama atual do mercado da saúde no Brasil
Um setor em transformação
O mercado da saúde no Brasil movimenta mais de R$ 800 bilhões por ano, considerando todos os seus segmentos — hospitais, planos de saúde, indústria farmacêutica, laboratórios e empresas de tecnologia em saúde. Segundo dados da Interfarma, a indústria farmacêutica brasileira é a sexta maior do mundo e apresenta potencial para avançar ainda mais com políticas públicas alinhadas à inovação.
Saúde suplementar em expansão
Segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), mais de 52 milhões de brasileiros possuem planos de saúde. Apesar disso, mais da metade da população ainda depende exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS). Com a inflação médica superior à inflação geral e uma crescente demanda por serviços de qualidade, o setor privado vê oportunidades para expansão, especialmente com o uso de ferramentas digitais e parcerias público-privadas.
Fatores que impulsionam o crescimento até 2028
1. Envelhecimento populacional
A transição demográfica é um dos principais fatores que impulsionam a demanda por serviços de saúde. Segundo o IBGE, até 2030 o número de idosos no Brasil deve ultrapassar o de crianças e adolescentes. Esse cenário aumenta a procura por cuidados crônicos, medicamentos contínuos, exames e internações de longa duração.
2. Digitalização da saúde
A telemedicina, que se consolidou durante a pandemia da COVID-19, permanece como uma das principais tendências. Consultas online, prontuários eletrônicos e inteligência artificial aplicada à triagem médica são apenas algumas das inovações que estão remodelando a jornada do paciente. Segundo o estudo da Deloitte, o investimento em tecnologia será fundamental para garantir o crescimento sustentável do setor.
3. Avanços na indústria farmacêutica
A indústria farmacêutica brasileira tem registrado avanços importantes, com destaque para o crescimento de medicamentos genéricos e biossimilares. Além disso, o país está desenvolvendo sua capacidade de produção local, o que reduz a dependência de insumos estrangeiros e fortalece a autonomia sanitária nacional.
4. Políticas de incentivo e investimento
Programas como o Complexo Econômico-Industrial da Saúde (CEIS) e a Política Nacional de Inovação em Saúde buscam integrar universidades, startups e grandes laboratórios em uma cadeia colaborativa. O objetivo é ampliar a pesquisa clínica, acelerar registros na Anvisa e fomentar a produção nacional de tecnologias em saúde.
Principais desafios do setor
Acesso e desigualdade regional
Embora os avanços sejam significativos, o Brasil ainda enfrenta grandes desafios em relação ao acesso à saúde de qualidade. Estados do Norte e Nordeste sofrem com a escassez de profissionais, infraestrutura precária e dificuldades logísticas. A desigualdade regional é um obstáculo central para o crescimento equilibrado do mercado.
Sustentabilidade do sistema
A sustentabilidade financeira tanto do SUS quanto dos planos privados preocupa gestores e especialistas. O aumento do custo dos tratamentos, a judicialização da saúde e a inflação médica exigem uma revisão no modelo de financiamento da saúde no país.
Regulação e inovação
A regulação ainda é considerada lenta em alguns aspectos, principalmente na incorporação de novas tecnologias. A Anvisa e outras agências reguladoras têm buscado acelerar processos sem comprometer a segurança, mas ainda há espaço para modernização.
A importância da inovação tecnológica
A transformação digital não é apenas uma tendência, mas uma necessidade para a expansão do mercado de saúde. Segundo levantamento da IDC Brasil, o investimento em tecnologias de saúde deve crescer mais de 10% ao ano até 2027, com destaque para:
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Sistemas de gestão hospitalar em nuvem
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Diagnóstico assistido por IA
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Wearables e dispositivos de monitoramento remoto
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Plataformas de interoperabilidade de dados
Essas inovações não só otimizam processos, como também melhoram a experiência do paciente e a eficiência operacional das instituições de saúde.
O papel da indústria farmacêutica
De acordo com a IQVIA, a indústria farmacêutica brasileira deve ultrapassar US$ 50 bilhões em movimentações até 2028. Entre os motores desse crescimento estão:
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Expansão dos medicamentos isentos de prescrição (MIPs)
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Crescimento da classe média e seu poder de compra
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Aumento da produção local de insumos farmacêuticos ativos (IFAs)
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Incentivos à pesquisa e desenvolvimento (P&D)
Empresas como Eurofarma, Aché e EMS têm investido fortemente em inovação e parcerias internacionais, ampliando a presença do Brasil no cenário global.
Perspectivas para o futuro
Especialistas são unânimes em afirmar que o setor da saúde continuará crescendo nos próximos anos, mas com uma mudança de paradigma. A saúde será cada vez mais preventiva, personalizada e digital. Isso exige novos modelos de negócio, maior integração entre os setores público e privado, e uma política nacional que valorize a ciência, tecnologia e inovação.
Conclusão
O crescimento de 9% ao ano no mercado da saúde do Brasil até 2028 representa uma oportunidade estratégica para o país. No entanto, esse avanço deve ser acompanhado de planejamento, investimento em tecnologia, qualificação de profissionais e equidade no acesso. O Brasil tem potencial para se tornar referência global em saúde, desde que consiga alinhar interesses públicos e privados em favor do bem-estar da população.
Fontes:
Futuro da Saúde;
Interfarma;
Statista;
ABIFINA;
Deloitte.