Apesar de cada uma afetar poucas pessoas, as doenças raras representam um conjunto imenso de condições que desafiam a medicina moderna. Muitas vezes, essas doenças são difíceis de diagnosticar, têm sintomas variados e impactam profundamente a qualidade de vida. Classificá-las em grupos ajuda médicos, pesquisadores e pacientes a compreender melhor suas origens e manifestações.
Neste artigo, você vai conhecer os cinco principais tipos de doenças raras, com um exemplo de cada categoria para entender suas causas, sintomas e por que são classificadas dessa forma.
1. Doenças Genéticas Raras
As doenças genéticas raras são causadas por alterações nos genes ou cromossomos. Elas geralmente se manifestam desde o nascimento ou nos primeiros anos de vida, e em muitos casos, são herdadas.
A Síndrome de Prader-Willi é um exemplo clássico. Essa condição é provocada por uma falha genética no cromossomo 15, geralmente devido à perda da contribuição paterna desse gene. Os bebês nascem com tônus muscular reduzido, dificuldade para se alimentar e crescimento lento. Com o tempo, desenvolvem um apetite insaciável, que pode levar à obesidade grave.
Além dos sintomas físicos, a síndrome também está associada a atrasos no desenvolvimento, dificuldades de aprendizagem e problemas comportamentais. O motivo pelo qual essa doença é classificada como genética está justamente na sua origem: uma mutação ou ausência de expressão genética herdada ou resultante de uma falha no desenvolvimento embrionário.
2. Doenças Autoimunes Raras
Entre as doenças raras, as autoimunes formam um grupo em que o próprio sistema imunológico ataca tecidos saudáveis do corpo. Em casos raros, esse ataque se direciona a áreas críticas do sistema nervoso central.
A Neuromielite Óptica (NMO), também conhecida como Doença de Devic, é um exemplo importante. Trata-se de uma condição inflamatória grave que afeta principalmente os nervos ópticos e a medula espinhal. Os pacientes costumam apresentar episódios de neurite óptica — com perda súbita de visão — e mielite transversa, que causa fraqueza muscular e paralisia.
O diagnóstico pode ser confundido com esclerose múltipla, mas a NMO tem características distintas, como a presença do anticorpo anti-AQP4, que ataca diretamente a aquaporina-4, uma proteína presente em células do sistema nervoso. Essa reação autoimune é o que define a classificação da doença dentro desse tipo raro.
3. Doenças Infecciosas Raras
Embora a maioria das doenças infecciosas seja amplamente conhecida, algumas permanecem restritas a regiões específicas do planeta, tornando-se verdadeiras raridades em outros contextos geográficos.
A Febre de Lassa é uma dessas doenças. Ela ocorre principalmente na África Ocidental e é causada por um vírus transmitido por roedores. Apesar de rara fora dessa região, a febre pode provocar surtos com alta taxa de mortalidade e é especialmente perigosa para grávidas. Os sintomas começam de forma genérica, como febre, fraqueza e dor muscular, mas podem evoluir para sangramentos, insuficiência hepática e choque.
Por ser causada por um vírus específico e apresentar padrão epidemiológico restrito, a Febre de Lassa se enquadra entre as doenças infecciosas raras. A sua raridade não está necessariamente na letalidade, mas sim na sua distribuição geográfica limitada e baixa incidência global.
4. Doenças Degenerativas Raras
As doenças degenerativas são caracterizadas pela perda progressiva da função de órgãos ou tecidos. Quando afetam o sistema nervoso, comprometem gradativamente o movimento, a coordenação e até mesmo funções cognitivas.
A Ataxia de Friedreich é um exemplo com base genética. A doença provoca a degeneração de nervos da medula espinhal e do cerebelo, áreas responsáveis pelo controle motor e equilíbrio. Normalmente, os primeiros sinais aparecem na infância ou adolescência: dificuldade para andar, quedas frequentes e fala arrastada.
Com o avanço da doença, o comprometimento neuromuscular se intensifica e pode incluir problemas cardíacos e diabete. A razão pela qual ela se classifica como degenerativa está na sua natureza progressiva e irreversível, que leva à perda gradual das funções motoras e neurológicas.
5. Doenças Neoplásicas Raras
As doenças neoplásicas são caracterizadas pelo crescimento anormal de células, podendo se manifestar como cânceres. Quando surgem em tecidos incomuns ou em populações específicas, são consideradas raras.
O Tumor de Wilms é um tipo raro de câncer renal que atinge principalmente crianças com menos de cinco anos. Em muitos casos, a descoberta ocorre por acaso, quando os pais percebem um aumento abdominal. Os sintomas também incluem dor, febre e pressão alta.
Embora seja um câncer, o Tumor de Wilms tem boas taxas de cura quando tratado precocemente. Sua raridade se dá pela baixa incidência: cerca de 1 caso em cada 10 mil crianças. A especificidade etária e o tipo celular envolvido justificam sua inclusão na categoria de doenças neoplásicas raras.
6. Doenças Neurológicas Raras
As doenças neurológicas raras afetam o sistema nervoso central ou periférico, interferindo em funções motoras, sensoriais ou cognitivas. São condições que, em muitos casos, evoluem de forma progressiva e debilitante.
A Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) é uma das mais conhecidas nesse grupo. Também chamada de doença de Lou Gehrig, a ELA provoca a degeneração dos neurônios motores — as células que controlam os músculos voluntários. Com o tempo, a pessoa perde a capacidade de se movimentar, falar, engolir e até respirar.
Apesar de rara, a ELA teve maior visibilidade nos últimos anos graças a campanhas globais como o Desafio do Balde de Gelo. Sua classificação como doença neurológica se dá porque ela compromete diretamente o funcionamento do sistema nervoso, sem afetar inicialmente a cognição, mas com impacto profundo sobre a autonomia do paciente.
7. Doenças Metabólicas Raras
As doenças metabólicas raras ocorrem quando o organismo não consegue processar adequadamente substâncias como gorduras, açúcares ou proteínas, devido à falta de enzimas específicas. Essas condições podem afetar diversos órgãos e sistemas.
A Doença de Gaucher é um exemplo clássico. Ela é causada pela deficiência da enzima glicocerebrosidase, essencial para quebrar certos tipos de gordura. Quando essa enzima está ausente ou funciona mal, os resíduos se acumulam dentro das células, especialmente no baço, fígado e ossos.
Os sintomas incluem fadiga, anemia, dores ósseas intensas e aumento de órgãos. Há diferentes tipos da doença, com variações nos sintomas e na gravidade. Sua classificação como metabólica se deve à falha no processamento celular de uma substância fundamental, interferindo diretamente no metabolismo do organismo.
8. Doenças Oncológicas Raras
Os tumores oncológicos raros são neoplasias malignas ou benignas que ocorrem em tecidos ou locais pouco comuns, ou que têm baixa incidência na população em geral.
O GIST (Tumor Estromal Gastrointestinal) é um desses tumores raros. Ele se origina nas células intersticiais de Cajal, que regulam os movimentos do trato digestivo. Pode ocorrer em qualquer parte do sistema gastrointestinal, mas é mais comum no estômago e intestino delgado.
Os sintomas podem ser vagos no início, como dor abdominal, sangramentos ou anemia. O diagnóstico geralmente é feito por biópsia após exames de imagem. Esse tipo de tumor é classificado como neoplásico por ser um crescimento celular anormal, e raro por sua origem em células altamente específicas do tubo digestivo.
Conclusão
Cada tipo de doença rara carrega consigo desafios distintos, tanto no diagnóstico quanto no tratamento. Ao conhecer as principais classificações — genéticas, autoimunes, infecciosas, degenerativas e neoplásicas — e exemplos reais como a Síndrome de Prader-Willi ou o Tumor de Wilms, conseguimos entender melhor o universo complexo dessas enfermidades.
A informação é uma aliada poderosa na luta contra o desconhecimento e na construção de políticas públicas mais eficazes para quem convive com essas condições.
Fontes:
Orphanet;
Nord;
OMS;
ABAH;
INCA.