Em menos de uma semana, dois casos semelhantes chamaram a atenção das autoridades brasileiras: a Receita Federal apreendeu, pela segunda vez, canetas do medicamento Mounjaro no Aeroporto Internacional do Recife, totalizando R$1,8 milhão em mercadoria — ambas as cargas estavam com o mesmo passageiro e sem qualquer documentação legal que comprovasse a regularidade da importação.
A repetição do caso, além de surpreendente, evidencia uma realidade preocupante: o crescimento do comércio informal e o comprometimento da compra segura de medicamentos, especialmente os voltados ao emagrecimento e controle de doenças crônicas. Essa prática, além de ilegal, coloca em risco a saúde da população e desafia os mecanismos de regulação sanitária.
Neste artigo, discutimos os principais riscos associados a esse tipo de mercado paralelo, a importância da atuação da Anvisa e por que a compra em farmácias autorizadas deve ser sempre a escolha consciente.
O que está acontecendo com o Mounjaro?
O Mounjaro, nome comercial da tirzepatida, é um medicamento desenvolvido para o tratamento de diabetes tipo 2. No entanto, seu efeito colateral — a significativa perda de peso — tem despertado o interesse de pessoas que buscam soluções rápidas para emagrecer.
Diante da alta demanda e do preço elevado, muitos indivíduos têm recorrido à importação informal ou à compra por canais não oficiais, como redes sociais e grupos de mensagens. Isso alimenta um mercado paralelo que ignora completamente as exigências sanitárias, expondo os consumidores a sérios riscos.
No segundo caso registrado no Recife, a carga apreendida ultrapassava 100 unidades do medicamento. Assim como na primeira apreensão, não havia documentação que comprovasse o registro do produto junto à Anvisa, nem condições adequadas de transporte ou conservação.
A importância da regulação da Anvisa
A Anvisa é o órgão responsável por garantir que medicamentos vendidos no Brasil sejam eficazes, seguros e fabricados dentro dos padrões sanitários exigidos. Todo medicamento comercializado no país precisa ter:
Registro junto à Anvisa;
Validação de eficácia e segurança;
Condições específicas de armazenamento;
Rastreabilidade desde a produção até o consumidor final.
Importar ou comercializar medicamentos sem essa autorização representa não apenas um crime sanitário, mas uma ameaça real à saúde do usuário.
Medicamentos fora de controle: quais são os riscos?
1. Composição desconhecida
Produtos adquiridos fora de farmácias regulamentadas podem ser falsificados ou adulterados. Sem controle laboratorial, não há como garantir que contenham a substância ativa correta, ou mesmo que estejam livres de contaminantes.
2. Condições de armazenamento inadequadas
Medicamentos como o Mounjaro são extremamente sensíveis a variações de temperatura. A perda de eficácia por má conservação pode tornar o tratamento ineficaz ou até causar efeitos inesperados.
3. Falta de orientação profissional
Ao adquirir medicamentos por vias informais, o consumidor perde o acesso à orientação farmacêutica e médica. Isso aumenta os riscos de uso incorreto, interações medicamentosas e automedicação perigosa.
O papel da fiscalização e da sociedade
A ação da Receita Federal e da Polícia Federal em aeroportos é fundamental para barrar a entrada de medicamentos ilegais no Brasil. No entanto, a reincidência do caso indica que há uma rede mais ampla de comercialização clandestina, que pode incluir revenda em redes sociais, clínicas estéticas e até academias.
Mais do que ação governamental, é preciso consciência coletiva. A população precisa entender que comprar medicamentos sem prescrição, fora de farmácias credenciadas, pode ter consequências sérias — e muitas vezes irreversíveis.
Farmácias autorizadas: o único caminho seguro
Farmácias autorizadas operam com licenças sanitárias, têm farmacêuticos à disposição e seguem todas as normas da Anvisa. Comprar nessas unidades garante:
Produtos com origem rastreável;
Validade e armazenamento corretos;
Atendimento técnico para dúvidas sobre uso;
Segurança jurídica e sanitária.
Além disso, muitas dessas farmácias oferecem canais digitais próprios, regulamentados, para quem prefere comprar online — sempre com prescrição médica quando necessário.
Como o consumidor pode se proteger?
Para garantir uma compra segura de medicamentos, o consumidor deve sempre buscar farmácias que possuam CNPJ regularizado, endereço físico definido e estejam sob responsabilidade técnica de um farmacêutico habilitado. Também é essencial verificar se o produto possui registro válido na Anvisa, o que pode ser consultado diretamente no site da agência.
Durante a compra, é recomendável desconfiar de ofertas com preços muito abaixo do mercado, que podem indicar produtos falsificados ou de origem desconhecida. Ao receber o medicamento, solicitar a nota fiscal é um direito e uma forma adicional de garantir a procedência da compra.
Além disso, evitar aquisições feitas por redes sociais, aplicativos de mensagens ou sites sem verificação oficial é uma atitude preventiva fundamental. Essas práticas simples, mas consistentes, são essenciais para proteger a própria saúde e fortalecer uma cultura de responsabilidade no consumo de medicamentos no Brasil.
O perigo da “normalização” da compra informal
Quando casos como esses se repetem, corre-se o risco de naturalizar o acesso a medicamentos por vias ilegais — especialmente quando promovidos por influenciadores ou conhecidos próximos.
Essa banalização contribui para um ciclo perigoso, onde os riscos são ignorados em troca de resultados rápidos. É preciso reforçar a mensagem: saúde não é mercadoria, e todo tratamento precisa ser orientado e seguro.
Conclusão
O segundo caso de apreensão do Mounjaro com o mesmo passageiro em apenas quatro dias chama atenção para uma realidade que vai muito além do aeroporto de Recife: o Brasil está enfrentando um aumento preocupante no comércio informal, e afetando a compra segura de medicamentos.
A compra fora das farmácias autorizadas compromete não apenas a legalidade da aquisição, mas, principalmente, a saúde de quem consome. Por isso, é fundamental que consumidores estejam atentos, façam escolhas responsáveis e priorizem a segurança em cada etapa do tratamento.
Optar por uma farmácia licenciada não é apenas uma questão de legalidade — é um compromisso com a própria vida.